No passado Sábado a vida brindou a Muito Pipi com a maravilhosa, ainda que inesperada, oportunidade de viver como uma verdadeira jovem londrina. O veículo potenciador de experiências típicas? Um autocarro nocturno.
Durante estes quase 21 meses de alegria em Londres, e alguns anos de visitas esporádicas, a oportunidade de embarcar num autocarro nocturno nunca se havia proporcionado. Talvez por não nutrir um particular carinho por autocarros em geral. Talvez pelas histórias que brotam das bocas e olhos dos habitantes da capital inglesa quando aliciados a falar sobre autocarros nocturnos em particular. Reza a lenda que nele habitam criaturas da noite e seus restos mortais, numa variedade que inclui vociferações sem sentido, regurgitações e tudo o que fica no meio.
Mas não. O autocarro nocturno onde entrei era muito mais (e em parte muito menos) do que isso. Com a primeira abertura de portas do condutor vi-me afogada numa onda de perfume embriagante. E assim fui recebida, num caloroso suspiro alcoólico, como que expirado em jeito de boas vindas pelos simpáticos passageiros que por lá viviam eles próprios uma magnificente aventura. Havia-os inanimados, havia-os enojados, havia-os também entusiasmados, transformadores do andar de cima do autocarro numa tasca em andamento recheada de riso estridente e garrafas quase vazias.
Depois de pouco mais de 10 minutos de aventura, ao deslocar-me para a saída, antecipando ansiosamente o momento em que o puro ar Londrino me encheria de novo os pulmões, reparei com surpresa que a tasca ambulante me seguiu. Passado dúvida inicial (quereriam eles ensinar-me as artes do transporte bêbado? Achariam eles que eu fazia parte do fabuloso grupo, possivelmente através de uma cuidadosa observação dos meus olhos que ora se reviravam sinalizando impaciência ora se arregalavam em choque?) suspirei de alívio ao perceber que o grupo festeiro queria apenas acordar um seu amigo que havia sido incapaz de subir ao primeiro andar e jazia sozinho num banco de dois lugares.

O resto? Uma tranquila e relaxante viagem de taxi até casa, pelo preço da sanidade nocturna, que aqui em Londres custa umas meras 30 libras.