quarta-feira, 23 de setembro de 2015

terça-feira, 8 de setembro de 2015

A minha avó.

Delicada, sensível, etérea. De olhar profundo, transparente. De alma quente, vulcânica, apaixonada. Passo apressado, escorregadio. Real no porte.
Encantadora. De uma elegância rebelde. Leve, livre, solta. Mãos pequenas. À procura.
Amor ansioso, sôfrego. Entrega total, exigente e insegura. Inquieta. 
Um mar de sentimentos. Brancos, negros, vermelhos e azuis. O sussurro da tranquilidade no grito das minhas agitações‎. O calor do colo. A suavidade dos beijos. A presença constante, completa.
Um corpo pequeno. Veloz. Uma mente curiosa. Desassossegada. Os sentidos. Todos. Juntos. Indomáveis. A eterna alegria inocente. O azul pleno da calma. O perfume dos sentimentos. A força do ser. O desejo do nós. A dúvida. A certeza. A cumplicidade.
A minha avó é sangue. Do meu. Do nosso. Do que não segue o curso das promessas. A minha avó é família. É união. Na presença, na ausência, nas partilhas, nas frustrações. A minha avó é ‎um oceano. De riso, lágrimas e ternura. A minha avó é um refúgio. Azul. Puro. São. A minha avó é amor. Do que desafia, do que transforma, do que liberta.
Em Londres, neste Outono antecipado, ela é o que falta. Numa voz doce, num olhar desejoso e num aconchego apertado, voando entre pingos de luar, sonhos imateriais e lugares mágicos, num brilho inconfundível, ela é tudo o que falta aqui.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

"Ainda vale a pena ir para Londres?"

Numa viagem a Portugal fui atingida de forma inesperada mas certeira por uma pergunta: "Ainda vale a pena ir para Londres?"
Verdade nua, crua e possivelmente igualmente dura: não faço ideia. Em grande parte porque me identifico muito pouco com generalizações desenvolvidas a preto ou branco.
E sim, eu vivo em Londres. E sim, estou muito feliz. E sim, aprecio extremamente o clima. E não, não acho que chova muito nem que a vida seja nublada. Mais que tudo: não, não acho que Portugal e Londres representem os extremos de um contínuo entre inferno e paraíso (até porque um é um país e o outro uma cidade).
Pode então o meu entusiasmo londrino acalmar os anseios de uma pessoa que me pergunta se esta é uma boa cidade para viver? Não creio.
É verdade que a minha vinda foi tranquila e a adaptação suave e delicada. Ainda assim, não me sinto minimamente capaz de empurrar mudanças alheias com declarações apaixonadas de sucesso e prosperidade.
A decisão de fazer da capital britânica a minha casa prendeu-se unicamente comigo. Com os meus desejos e com as minhas ambições. E também com os meus medos e vulnerabilidades. Na verdade tudo o que faz de mim quem sou teve impacto na despedida.
Não vim à procura de uma imagem criada por outras pessoas, nem de uma realidade predefinida. Trouxe-me a mim e a um misto de entusiasmo por tudo aquilo que já tinha descoberto antes de me mudar e de medo por tudo aquilo que ainda estava por descobrir. Porque os céus disfóricos da capital refrescam-me. A pontualidade das pessoas é muito mais mitológica do que real. A confusão acalma-me. A frieza tem aquecido as minhas interacções. E Londres é o sítio onde me sinto bem. Eu. Hoje.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Entre Kew e Moorgate

Natureza e arquitectura. O mesmo reflexo.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Expulsões londrinas


Londres é uma cidade deslumbrante.
Numa harmoniosa relação entre a história distante e a criação contemporânea. Numa dança entre cultura e arte, onde há uma forte intimidade entre conhecimento e criação. Entre moda e tradição. Entre natureza e... consumismo. 
Haja espaço para acolher tudo o que se pode comprar em Londres. Em particular em amplas e deliciosamente recheadas lojas de departamento como a inevitável Harrods, a irresistível Liberty, a moderna Selfridges, a exclusiva Fenwick, a dinâmica Harvey Nichols e tantas outras como Debenhams, John Lewis e House of Fraser. Cada uma com o seu estilo e posicionamento. Em comum um mundo de marcas, de cheiros, de sabores... e de surpresas.
Sendo este um espaço dedicado à partilha de informações valiosíssimas, e porque acredito que visitas à capital inglesa incluam frequentemente compras animadas, não poderia jamais deixar de partilhar a assombrosa e emocionante história que se segue. 
Contextualizando: Oxford Street. Um Domingo cinzento. Dentro de uma loja de departamento (que não a das imagens), na secção de calçado, uma blogger passeava com toda a tranquilidade. A área estava quase vazia, é um facto. Ainda assim, alheia a isso, a minha atenção saltitava entre belíssimas sandálias, ténis de pele e saltos vertiginosos. De um momento para o outro, enquanto eu pegava num sapato para mostrar quão apaixonada estava por ele, vislumbrei pelo canto do olho uma senhora a mover-se galopantemente na minha direcção. Chegada ao seu destino e, de olhos tão abertos que só por pouco não rebolaram uns globos oculares pelo rosto fora, proferiu imortais palavras: "Vou ter de pedir-vos que saiam!"
Assustada, cheguei a pensar que a minha intimidade com um sapato poderia ter despertado a ira da assistente de loja. E antes que pudesse dizer o que quer que fosse, a mesma dama continuou: "A saída mais próxima é aquela!" como que em jeito de "Rua da minha loja, sua asquerosa". O nível da coisa foi tão forte que temi que as palavras seguintes fossem: "Sai do meu país, portuguesa irresponsável!". Mas não. A explicação era outra. A loja ia fechar. De uma maneira aparentemente tão brusca que nem hipótese havia para pagar uma peça de roupa que descansava delicadamente no braço da minha companhia. Exactamente o contrário da vendedora, que claramente ignorou quaisquer subtilezas, naquele que foi claramente um momento de pressa insana.
Com sorte pode ser que na vossa próxima visita a uma loja de departamento londrina sejam brindados com este nível de atendimento. Façam figas!

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Um monstro peludo e imobiliário

Para mim Londres é uma cidade encantada. Entre cheiros, céus em alucinante mutação e imagens sedutoras, vive um mundo à parte. Um mundo de drama. Terror. Decadência. Com um sorriso tão maternal quanto maliciosos Londres brinda-nos com um "Bem vindos à procura de casa!"
Antes de me mudar para cá fui brindada com a estonteante sorte de ter quem encontrasse uma acomodação para mim. No dia em que deixei Portugal, lá estava ela à minha espera. Tão bem localizada quanto britânica. Tão confortável quanto moderna. Toda minha por um mês.
As histórias de terror que me haviam sido contadas impulsionaram-me rapidamente para a acção imobiliária. E assim, uma semana depois de me ter tornado uma habitante da capital inglesa, achei por bem iniciar aquela que viria a ser uma das maiores aventuras vividas até à data.
Entre imobiliárias e sites (como o Right Move) a procura foi-se revelando bem mais dura e pavorosa do que eu alguma vez poderia imaginar. Que o preço das habitações londrinas era pesado já eu sabia. Mas ninguém me podia preparar para o filme de terror em entrei. Porque uma pessoa pensa que, se vai pagar bem, vai com certeza viver bem. Sim? Não! Nunca! Não se deixem enganar pelo aspecto distinto e simpático de muitos dos edifícios londrinos. As coisas que se passam atrás de maravilhosas portas coloridas pertencem a uma realidade paralela. Entre entradas labirínticas e escuras, janelas de casa de banho à mão de semear (alerta meliantes e outros curiosos), despensas com aspecto de gruta, buracos na parede, tectos bolorentos e bairros tenebrosos, houve de um tudo e muito mais.
Das 13 casas visitadas por mim, há sem dúvida uma que lembro com saudade. O cenário: uma rua linda, bem iluminada, numa área muito desejável. Uma única porta feia, como que enfiada entre outras bem cuidadas. O destino! Lá dentro, o paraíso da bizarria. Inexistência de luz. Corrimão abanante, com tinta a cair. Piso plástico, sujo e peganhento. Janelas ora chiadoras ora partidas. Tudo isto no corredor do prédio. Dentro da habitação a situação, ainda que não tão horripilante, não era melhor. Uns segundos depois de sair daquela espelunca sem limites, cruzei-me com um casal que, na companhia de outro agente imobiliário, se preparava para conhecer aquela maravilha, quiçá na esperança de encontrar um ninho de amor. Eu estava confiante que o terror deles seria tão grande quanto o meu. Mas não! Aparentemente ficaram encantados. E assim, minutos depois de terem subido aquelas escadas infernais, desceram-nas com um brilho nos olhos e um compromisso nas mãos. Enfim... memórias que deixam saudade.
Eu só queria uma casa. Com um quarto. Bem localizada. Segura. Limpa. Num bairro simpático.
Depois de 12 fracassos, à 13ª foi de vez. Quase quase no fim do prazo para a mudança, deparei-me com o espaço ideal.
Segunda fase do drama: provar ao senhorio que conseguiria suportar o custo da renda. Sim. Se conseguirem escapar às violentas garras da imundice londrina e encontrar um espaço para serem felizes, ainda assim vai haver entre vocês e o vosso lar doce lar todo um ataque burocrático. Entre extractos bancários, contratos de trabalho e referências de carácter, é pedido ao arrendatário todo um mundo de provas. E de dinheiro, claro. 
Mas no fim, mesmo com todos os espaços ranhosos, com todos os cantos urinados, com horror de preços praticados no centro da cidade e com com todas as dificuldades, viver em Londres é mesmo a melhor coisa do mundo!


quarta-feira, 6 de maio de 2015

O primeiro de muitos...

Depois de muitos falsos alarmes, eis que hoje sim! O comboio de palavras que é o Oh No, Not Another Emigration Blog! vai abrir portas.
Escrito igualmente pela Muito Pipi, este será um espaço de partilhas diferentes, no conteúdo e na forma, com os holofotes dirigidos à vida londrina.
Para quem não conhece a Muito Pipi, fica a introdução: no final de 2014 esta vossa blogger (ver Um Blog Muito Pipi) mudou-se do centro Português para o sul Inglês. Londres foi a cidade escolhida e eis que, mais de 6 meses depois, todo um universo de experiências começam hoje a ser descarregado aqui.
Para marcar este momento solene deixo-vos um selecção de imagens da capital inglesa captadas nos últimos meses. Como que em jeito de aperitivo para os posts que se seguem.


E no próximo episódio: o grande monstro peludo e feio que é procurar casa em Londres.