sexta-feira, 17 de julho de 2015

"Ainda vale a pena ir para Londres?"

Numa viagem a Portugal fui atingida de forma inesperada mas certeira por uma pergunta: "Ainda vale a pena ir para Londres?"
Verdade nua, crua e possivelmente igualmente dura: não faço ideia. Em grande parte porque me identifico muito pouco com generalizações desenvolvidas a preto ou branco.
E sim, eu vivo em Londres. E sim, estou muito feliz. E sim, aprecio extremamente o clima. E não, não acho que chova muito nem que a vida seja nublada. Mais que tudo: não, não acho que Portugal e Londres representem os extremos de um contínuo entre inferno e paraíso (até porque um é um país e o outro uma cidade).
Pode então o meu entusiasmo londrino acalmar os anseios de uma pessoa que me pergunta se esta é uma boa cidade para viver? Não creio.
É verdade que a minha vinda foi tranquila e a adaptação suave e delicada. Ainda assim, não me sinto minimamente capaz de empurrar mudanças alheias com declarações apaixonadas de sucesso e prosperidade.
A decisão de fazer da capital britânica a minha casa prendeu-se unicamente comigo. Com os meus desejos e com as minhas ambições. E também com os meus medos e vulnerabilidades. Na verdade tudo o que faz de mim quem sou teve impacto na despedida.
Não vim à procura de uma imagem criada por outras pessoas, nem de uma realidade predefinida. Trouxe-me a mim e a um misto de entusiasmo por tudo aquilo que já tinha descoberto antes de me mudar e de medo por tudo aquilo que ainda estava por descobrir. Porque os céus disfóricos da capital refrescam-me. A pontualidade das pessoas é muito mais mitológica do que real. A confusão acalma-me. A frieza tem aquecido as minhas interacções. E Londres é o sítio onde me sinto bem. Eu. Hoje.